POR QUE PROTEGER?

As reservas de surf, sejam elas mundiais ou nacionais, servem como um modelo para preservar ondas e seu entorno. Através do seu reconhecimento contribui-se com a proteção dos principais atributos ambientais, socioculturais e econômicos de regiões costeiras relevantes para a prática do surf.

A temática de proteção das ondas para a prática desportiva com as diversas modalidades de surf e esportes afins constitui matéria ainda recente no escopo das políticas públicas de gestão territorial e das zonas costeiras ao redor do mundo.

Entretanto, essas poucas iniciativas foram e são fundamentais na construção de um saber comum, na divulgação e no fortalecimento das ideias em prol da conservação marinho-costeira, com especial enfoque na manutenção da qualidade de renomados picos de surf.

A preocupação com a perda de qualidade dos ecossistemas de surf surgiu na década de 1960 no Hawaii associada à percepção de surfistas, ambientalistas e cientistas, das alterações sobre o ambiente costeiro no que tange inicialmente à poluição das águas do mar e às mudanças ocorridas na linha de costa (como o aumento das construções na faixa costeira) e que vinham afetando diretamente a qualidade das ondas.

Na década de 1970, na Austrália, surgiu a “Bells Beach Surfing Recreation Reserve”, sendo o primeiro modelo de área de surf protegida no mundo voltada ao reconhecimento e conservação da história e cultura do local para o surf nacional e internacional.

O modelo de Bells inspirou o movimento que em 2005 criou o Programa Nacional de Reservas de Surf da Austrália (do inglês: “National Surfing Reserves”) como uma estratégia de conservação das ondas para a prática do surf e do ambiente marinho costeiro do seu entorno. Esta iniciativa nasceu e vem se desenvolvendo com mais força e engajamento político e comunitário na Oceania, especificamente na Austrália.

Em 2006 foi a vez da Nova Zelândia (NZ) iniciar a sua estratégia de proteção das ondas. Denominada Sociedade de Proteção dos Picos de Surf (do inglês: “Surf break Protection Society”), sua criação foi motivada pela potencial ameaça do desenvolvimento territorial sobre uma onda caracterizada como um “tesouro” para a comunidade do surf neozelandês. O objetivo comum era compartilhado com a iniciativa australiana, da proteção e conservação dos atributos naturais associados aos picos de surf, como a qualidade das águas e dos ecossistemas marinho costeiros, além de focar na diminuição de impactos nos acessos às praias.

A partir destas iniciativas, o conceito de proteção das ondas serviu como inspiração para, alguns anos mais tarde, a organização Save The Waves Coalition, sediada na Califórnia (EUA), que já atuava na salvaguarda de ondas ameaçadas ao redor do mundo, como na Ilha da Madeira (Portugal), criar o Programa Mundial de Reservas de Surf (do inglês: “World Surfing Reserves).

Idealizadas em parceria com o Programa Nacional da Austrália e com a International Surfing Association (ISA), as Reservas Mundiais tiveram origem em 2009 e são embasadas na proposta da preservação do Patrimônio Mundial da UNESCO, que busca proteger e preservar territórios, monumentos e sítios históricos, assim como formações naturais, biológicas e geológicas de alto valor para a humanidade.

Neste sentido, as Reservas Mundiais de Surf surgiram com o objetivo de reconhecer a importância da formação das ondas e dos picos de surf de determinadas praias ou regiões costeiras de grande relevância internacional, sob o âmbito sociocultural, econômico e ambiental.

A atribuição do título de Reserva Mundial de Surf busca adicionar uma camada de proteção à onda e seu entorno, trazendo reconhecimento em nível internacional à região, tendo como diretriz prioritária o fortalecimento e engajamento das comunidades locais em prol da conservação e manutenção de todo o meio ambiente no qual a onda está inserida.

RESERVAS DE SURF MUNDIAIS

Bahia de Todos Santos
México
Ericeira
Portugal
Gold Coast
Australia
Guarda do Embaú
Brasil
Muanchaco
Peru
Malibu
USA
Manly Beach
Australia
Noosa
Australia
Playa Hermosa
Costa Rica
Punta del Lobo
Chile
Santa Cruz
USA
North Devon
UK

Em 2019 o Programa Brasileiro formalizou uma parceria com o Programa Mundial de Reservas de Surf a fim de contribuir com a meta de proteger 1000 ecossistemas de surf e para a criação de uma rede mundial de reservas e áreas de surf protegidas.

RESERVAS DE SURF NO BRASIL

O Brasil conta com uma representante no Programa Mundial de Reservas de Surf, a onda da Guarda do Embaú e da Prainha, localizadas entre os municípios de Palhoça e Paulo Lopes no Estado de Santa Catarina.

O projeto de criação da Reserva Mundial da Guarda do Embaú foi proposto, entre outros fatores, de forma a resguardar a famosa onda da Guarda e as qualidades socioambientais do seu entorno de um projeto imobiliário que afetariam de maneira permanente a famosa onda.

A criação da RMS da Guarda do Embaú ocorreu em meio a inúmeras discussões com a comunidade local, empresários e surfistas, o que culminou na construção de um cenário de forte engajamento comunitário, contando posteriormente com o apoio do poder executivo do município de Palhoça e atualmente é reconhecida nas esferas Estadual e Federal.

A RMS da Guarda vem desenvolvendo oficinas socioambientais comunitárias, com o objetivo de discutir, por exemplo, qual o modelo mais adequado para a gestão e o tratamento dos resíduos sólidos e líquidos da região.

O exemplo da Guarda inspira reservas mundo a fora.