COP30 marcou um ponto de virada para o Oceano, ressalta Conselheira do PBRS

COP30 marcou um ponto de virada para o Oceano, ressalta Conselheira do PBRS
novembro 25, 2025 Fernanda

Crédito: Carlos Tavares/COP30A bióloga e pesquisadora Marinez Scherer, membro do conselho estratégico do Programa Brasileiro de Reservas de Surf (PBRS) e nomeada Enviada Especial da presidência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) para o tema Oceanos, compartilha sua visão sobre os resultados do evento: “A COP30 contribuiu para alinhar forças e consolidar estratégias concretas para soluções marinhas. Ação baseada no oceano é ação climática”.

A íntegra a seguir — boa leitura!

“A COP30 marcou um ponto de virada para o Oceano. O tema ganhou centralidade política e foi reconhecido por líderes, especialistas e pela sociedade como peça-chave no enfrentamento da crise climática. A mensagem que emergiu em Belém foi inequívoca: para que o oceano continue sendo nosso maior aliado — e o principal regulador do clima do planeta — é indispensável garantir a saúde dos ecossistemas costeiros e marinhos.

Tivemos sinais emblemáticos para essa avaliação, como a minha participação na abertura da Cúpula do Clima, falando para chefes de Estado e de Governo, ministros e dirigentes de organizações internacionais sobre os desafios que encaramos diante da crise climática e como o papel do Oceano é fundamental como o principal regulador climático do Planeta.

Houve avanços muito importantes. Entre eles:

  • Construção e apresentação na COP30 do Pacote Azul, ou Blue Package, fruto da Agenda de Ação, no qual especialistas em Oceano e Ecossistemas Costeiros se uniram para elencar dezenas de ações já existentes e que trazem resultados positivos, para enriquecer como nunca havia acontecido o debate sobre Oceano.
  • Lançamento da primeira ferramenta global para monitorar a implementação da ação climática oceânica e o avanço dos Ocean Breakthroughs, que traduzem o Pacote Azul, é uma novidade da COP30 que vai permitir acompanhar os avanços e dar transparência à implementação das soluções.
  • Mutirão Azul, uma plataforma que foi aberta por iniciativa minha e de parceiros, para identificar outras iniciativas baseadas no ambiente marinho, nacionais ou internacionais, coletou 69 soluções, sendo mais de 60% delas tendo mulheres como líderes. São soluções locais, subnacionais e internacionais, enviadas por organizações não governamentais, povos e comunidades tradicionais, escolas, empresas e governos. Ou seja, soluções e ações concretas existem e são apresentadas como um portifólio para a aceleração.
  • Força-Tarefa Oceânica liderada pelo Brasil e pela França que coloca o Oceano dentro de um mecanismo global para acelerar a integração de soluções marinhas nos planos climáticos nacionais.
    Essa novidade dá continuidade ao trabalho já feito do Desafio das Contribuições Nacionalmente Determinadas Azuis, ou Blue NDC Challenge, que estimula os países a estabelecerem metas de proteção ao Oceano em suas próprias NDCs.
    Brasil, França, Austrália, Fiji, Quênia, México, Palau, República das Seychelles, Chile, Madagascar e Reino Unido já haviam aderido à iniciativa. Durante a COP30, pelo menos outros seis países –Bélgica, Camboja, Canadá, Indonésia, Portugal e Singapura—aderiram à coalizão. Neste grupo, estão pelo quatro das dez maiores economias do mundo.
  • Adesão do Brasil ao Painel de Alto Nível para uma Economia Oceânica Sustentável (High Level Panel for a Sustainable Ocean Economy), ou simplesmente o Painel do Oceano, se comprometendo a planejar e gerir de forma sustentável os 3,68 milhões de km² de águas sob jurisdição nacional até 2030, levando a quase 40% das ZEE globais a estarem cobertas por compromissos de gestão oceânica 100% sustentável.
  • No documento final da COP30 aparece a necessidade de conservação da natureza, incluindo os ecossistemas marinhos, para que possamos enfrentar essa crise climática.

Apesar dos avanços importantes, ainda há um longo caminho pela frente — não apenas para o Oceano, mas para todo o planeta. A transição energética precisa ser tratada com urgência e objetividade, com a redução gradual do uso de combustíveis fósseis e maior volume de financiamento climático para as nações mais vulneráveis.

Todas essas agendas se conectam, direta ou indiretamente, ao Oceano. A COP30 contribuiu para alinhar forças e consolidar estratégias concretas para soluções marinhas. Ação baseada no oceano é ação climática.

Agora, o desafio é avançar da mensagem para a implementação. É seguir demonstrando a importância vital do oceano e acelerar a adoção das soluções já identificadas — porque o oceano não pode esperar, e o planeta também não.”

Fotos: Marinez Scherer, crédito: Carlos Tavares / Plenária COP 30, crédito: Antonio Scorza

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