Primeiro Encontro da Rede Brasileira de Reservas de Surf fortalece diálogo sobre conservação costeira e cidadania ambiental

Primeiro Encontro da Rede Brasileira de Reservas de Surf fortalece diálogo sobre conservação costeira e cidadania ambiental
dezembro 17, 2025 Fernanda

Realizado no âmbito do evento “Reservas de Surf Brasil – Diálogos sobre Cidadania Ambiental e Conservação da Costa”, no dia 15 de dezembro de 2025, o primeiro encontro Rede Brasileira de Reservas de Surf reuniu representantes das Reservas Nacionais de Surf, instituições parceiras, lideranças comunitárias e público interessado em fortalecer a governança participativa e a conservação dos territórios costeiros brasileiros.

Na abertura do encontro, Fabricio Almeida, coordenador técnico do Programa Brasileiro de Reservas de Surf, destacou a importância do momento como um marco inaugural da rede, reforçando o papel das Reservas Nacionais de Surf (RNS) como instrumentos de articulação comunitária, proteção ambiental e valorização da cultura do surf. Instituições parceiras e representantes das reservas foram acolhidos em um ambiente de diálogo e construção coletiva.

Na sequência, foram exibidos três minidocumentários das RNS Itamambuca, Francês e Regência (trailers disponíveis no canal @reservasdesurf no Youtube), além de dois vídeos do projeto A Voz do Rio Vermelho (assista a websérie), que trouxeram ao público narrativas locais sobre identidade, memória, conservação ambiental e a relação histórica entre comunidades costeiras e o mar.

Durante a programação inicial, foram apresentados os principais resultados do Programa Brasileiro de Reservas de Surf (PBRS) em 2025, com destaque para o fortalecimento da governança participativa, a construção de planos de gestão, a ampliação do engajamento comunitário e o reconhecimento das ondas como patrimônio ambiental, cultural e social.

Surf, conservação e cultura como estratégias integradas

Maurício Bianco, da Conservação Internacional (CI-Brasil) ressaltou o papel estratégico do surf como vetor de conservação ambiental, destacando o papel da cooperação internacional por meio da Surf Conservation Partnership e a parceria institucional com o Instituto APRENDER Ecologia. Foi enfatizada a importância de conectar a proteção das ondas ao arcabouço legal existente, reforçando que a conservação ambiental e cultural é o objetivo central das Reservas de Surf, reconhecendo a cultura como um serviço ecossistêmico fundamental.

Emerson Miranda, da Associação de Surf do Moçambique, apresentou o histórico de organização comunitária do território anfitrião, destacando o papel das associações locais de surf na construção da RNS e na articulação entre comunidade, instituições e poder público.

Roda de conversa: motivações, impactos e aprendizados

A roda de conversa teve início com um resgate do processo de criação do PBRS e com a pergunta orientadora sobre as motivações que levaram as comunidades a candidatarem seus territórios ao título de Reserva Nacional de Surf.
Entre os relatos, destacou-se que, em alguns territórios, a candidatura à RNS surgiu como estratégia para enfrentar processos de revisão de planos diretores e pressões urbanísticas. Em outros, esteve diretamente ligada à regeneração ambiental e social após grandes impactos socioambientais, ao enfrentamento de empreendimentos portuários e ao reconhecimento dos surfistas como sujeitos diretamente afetados por crimes ambientais.

Também foi ressaltado que a forte organização da sociedade civil, construída ao longo de décadas, foi determinante para conter a especulação imobiliária, preservar ecossistemas sensíveis e fortalecer instrumentos como planos de gestão ambiental de praias e bacias hidrográficas. Outro ponto recorrente foi o crescimento do engajamento comunitário de base, impulsionado pela RNS como ferramenta de mobilização social.

Ao abordar os impactos do PBRS nos territórios, os participantes destacaram a maior integração entre movimentos e instituições antes dispersos, o fortalecimento do monitoramento participativo da biodiversidade e o aumento do engajamento cidadão. As oficinas promovidas pelo programa foram apontadas como fundamentais para sistematizar ações já existentes, qualificar iniciativas locais e apoiar a profissionalização do ecossistema de conservação marinha e costeira.

Em alguns casos, os benefícios do processo foram percebidos ainda antes da titulação formal, especialmente pela união de diferentes atores, pela validação externa do trabalho comunitário e pelo fortalecimento simbólico e político das lutas locais. Também foi ressaltado que as RNS chegaram em um momento crítico de crise climática, contribuindo para ampliar projetos de restauração ecológica e articular ações conjuntas entre comunidades, instituições e poder público.

Desafios e próximos passos

Ao olhar para o futuro, os territórios destacaram como prioridades a continuidade das ações de educação ambiental, a criação e fortalecimento dos Comitês de Gestão Local, a integração das RNS com instrumentos legais existentes, a captação de recursos para conservação, saneamento básico e restauração de ecossistemas, além do fortalecimento do turismo de base comunitária e do turismo de surf que valorize as comunidades locais.

Também foram mencionados desafios relacionados à gestão das expectativas comunitárias, à necessidade de ampliar a participação social e à consolidação dos processos de regulamentação das reservas.

Participação do público amplia o debate

O espaço aberto ao público trouxe contribuições sobre temas como segurança em trilhas, acessibilidade, participação de mulheres e jovens, captação de recursos e inclusão de diferentes modalidades de surf. Destacou-se a necessidade de incorporar a acessibilidade aos planos de gestão das RNS, ampliar o protagonismo feminino e juvenil e diversificar estratégias de financiamento, combinando editais públicos, fundos governamentais, parcerias institucionais e modelos de negócios ligados à economia do surf.

O encontro reforçou a importância de manter espaços permanentes de troca entre as Reservas Nacionais de Surf e consolidou a Rede Brasileira de Reservas de Surf como uma plataforma estratégica de cooperação, aprendizado coletivo e fortalecimento da cidadania ambiental e da conservação da costa brasileira.

Este evento faz parte do Programa Brasileiro de Reservas de Surf (PBRS), idealizado e coordenado pelo Instituto APRENDER Ecologia. A Conservação Internacional (CI-Brasil) é parceira estratégica por meio do projeto Ondas da Conservação. O PBRS também conta com o patrocínio nacional do projeto Proteja sua Praya, do Grupo Better Drinks. Nosso objetivo é fortalecer as comunidades locais das Reservas Nacionais de Surf na gestão, conservação e restauração de ecossistemas costeiros, a partir do esporte, cultura e economia local.

Fotos: Instituto APRENDER Ecologia